Esse último fevereiro deu quase tudo errado, inclusive com um dia a mais para dar problemas. Foram poucas produções, mas em uma metáfora bem esquisita mas adequada: parece que eu não tava conseguindo me sentir bem com a forma que o rodo, as tintas e a emulsão tavam falando comigo. Parece um papo daqueles meio estranhos de alguém que não tá batendo bem, que não dá pra saber a medida de delírio na fala da pessoa, mas é só uma metáfora.
Algumas produções deram muito errado, o gosto foi amargo. Mas acho que é um momento de vida em que meu olhar está um pouco amargo também e a atenção que precisa pra fazer algo pros outros talvez exija mais do que eu posso oferecer agora, ou talvez seja algo que eu realmente não consiga oferecer. De alguma forma me conforta perceber essa incapacidade, mas que é ruim sentir isso é, e escrever ajuda memória curta a lembrar, que vai acontecer isso mais algumas vezes.
Há uma relação conflitante em pensar uma prática sem retorno financeiro, além do buraco orçamentário parece um contrassenso de formação, mas é só um cacoete irritante. Assim como essa necessidade — inútil neste ponto — de querer determinar e acomodar as coisas em espaços delimitados.
Faz uns 10 meses que tento arrumar meu estúdio, mas parece sempre que eu to tentando estacionar uma carreta em uma vaga de carro no supermercado. Tento me desfazer das coisas, mais aparecem e no fim tudo acaba sendo usado de alguma forma. Eu preciso de um espaço maior, mas pra conseguir isso precisa de uma vida maior. E o paradoxo é: esse tamanho é o que eu consigo viver agora, mesmo sabendo que estou apertado a ponto de quase atrofiar. Mas enfim, juntando esses cacos to tentando refazer as coisas detalhadamente, esperando as brechas, pensando bem, não resolve, mas acalma.