Tempo de pensar, tempo de fazer

Esse período entre março e abril foi intenso em outras áreas, estive envolvido até a cabeça em um projeto de design de informação que consumiu todo o tempo, nas brechas em que rolaram alguns foites, tímidos, mas que aconteceram.

Umas cadeiras usando as tintas vinílicas, eu gosto do acabamento e do resultado da vinílica mas ela é impossível pra mim, trabalho em um espaço reduzido, com gatos circulando no espaço o tempo todo. É curioso que fora do país tem opções de tintas serigráficas fine-art que são vinílicas a base de água, algumas marcas que encontrei em uma pesquisa rápida era da SpeedBall e de uma marca norte-americana chamada TW Graphics mais especificamente a linha 500, que tem inclusive acabamentos brilhantes a base de água, no Brasil infelizmente não encontramos essas tintas, fico pensando qual o impeditivo, apesar de imaginar uma resposta.

 

Apesar do resultado ter ficado interessante, um pouco da falta de prática com a tinta vinílica afetou o resultado. E aqui ficam os lembretes dos aprendizados, respeitar as lineaturas de telas, as vezes eu meio que chuto o balde com as telas que tenho disponíveis, mas esse é um fator que afeta. É claro que a maioria das vezes eu quero o erro, mas tem vezes que quero o preciso. Outro lembrete é que pra acertar impressão de pano a gente tem que deixar ele igual um papel, com ferro de passar roupa, mas esse fica mais de anotação pra um próximo texto.

Eu tenho alguns projetos para imprimir esse ano, uma pequena publicação e um zine. Mas também to me preparando para outras coisas em outras partes da vida que vão exigir quase toda a energia que tenho. O tempo é cada vez mais escasso, mas sigamos.

#Malni – Mea Culpa

Notas confusas de um mês curto

Esse último fevereiro deu quase tudo errado, inclusive com um dia a mais para dar problemas. Foram poucas produções, mas em uma metáfora bem esquisita mas adequada: parece que eu não tava conseguindo me sentir bem com a forma que o rodo, as tintas e a emulsão tavam falando comigo. Parece um papo daqueles meio estranhos de alguém que não tá batendo bem, que não dá pra saber a medida de delírio na fala da pessoa, mas é só uma metáfora.

Algumas produções deram muito errado, o gosto foi amargo. Mas acho que é um momento de vida em que meu olhar está um pouco amargo também e a atenção que precisa pra fazer algo pros outros talvez exija mais do que eu posso oferecer agora, ou talvez seja algo que eu realmente não consiga oferecer. De alguma forma me conforta perceber essa incapacidade, mas que é ruim sentir isso é, e escrever ajuda memória curta a lembrar, que vai acontecer isso mais algumas vezes.

Há uma relação conflitante em pensar uma prática sem retorno financeiro, além do buraco orçamentário parece um contrassenso de formação, mas é só um cacoete irritante. Assim como essa necessidade — inútil neste ponto — de querer determinar e acomodar as coisas em espaços delimitados.

Faz uns 10 meses que tento arrumar meu estúdio, mas parece sempre que eu to tentando estacionar uma carreta em uma vaga de carro no supermercado. Tento me desfazer das coisas, mais aparecem e no fim tudo acaba sendo usado de alguma forma. Eu preciso de um espaço maior, mas pra conseguir isso precisa de uma vida maior. E o paradoxo é: esse tamanho é o que eu consigo viver agora, mesmo sabendo que estou apertado a ponto de quase atrofiar. Mas enfim, juntando esses cacos to tentando refazer as coisas detalhadamente, esperando as brechas, pensando bem, não resolve, mas acalma.

 

 

 

Janeiros

 

Em tempos de IAs escrevendo todo tipo de texto parece total sem sentido gastar tempo, parar e escrever. Mas a escrita é só a superfície. Se a ordem das palavras desestabiliza a compreensão, a ordem das coisas no quarto/estúdio está explodindo em caos, o que bagunça o psíquico do indivíduo que habita o espaço, no caso eu, mas também não sei se a bagunça não é reflexo da cabeça, enfim.

 

 

Em uma tentativa sísifica de organização, ajustei as moedas pra conseguir rodízios para todos os móveis, agora consigo arrastar as coisas sem destruir muito tudo. No lado menos material da organização também arranjei uma câmera pra melhorar os registros, documentar como estudo, não só como comunicação. A ideia é focar mais nas anotações, passar menos tempo esfregando o dedo na tela do celular esse tipo de coisa, se o conhecimento é produzido no fazer, tem que estar atento pra anotar, e não só gravar pra ficar perdido num cartão de memória por aí. A ideia desse ano é tentar se concentrar mais na pesquisa acadêmica, tem um movimento que precisa ser iniciado nesse campo da minha vida que acabei adiando na pandemia, ideias precisam amadurecer para não apodrecer e a urgência chamou a energia pra isso.

 

No fio do rodo

Por aqui o ano começou com algumas produções em conjunto com e para amigos. As primeiras foram as experiências com folha inteira junto com o Marcos Paulo (Cerol e Lerdo) que foram registradas pelo Samuca, no vídeo abaixo. 3 cores especiais, rosa neon, amarelo flúor e prata no Curious Matter Adiron Blue 270g no 70cm x 100cm, impressas na garra simples e secador de cabelo. Também teve a gambiarra com imãs, e papel paraná pra tentar manter o registro, mas a idéia era criar 10 exemplares únicos então o jogo da garra, tal qual a direção de uma kombi 83 fez sua mágica.

 

 

 

Outra parada que rolou são as camisetas para a Burocrata carimbos, apesar de achar maneiro, essa parte de estamparia não é muito o meu lance, mas nesse projeto em específico mergulhei por que queria testar algumas coisas, a minha velha/nova multimesa pra imprimir (que constatei que ficou horrível, mas em algum momento mais oportuno reconstruo) e também pegar o manejo fino com o fotolito grande. Pra esse fiz uma mistura de traço na jato de tinta, letras na laser e desenho no pincel atômico faber-castell, que parece ser feito de piche.

 

 

Mas janeiro começou mesmo quando o Caboco apareceu por aqui e fizemos alguns pássaros em tecido pra uma obra/performance que ele ia desenrolar. Tudo foi no foite mesmo, digo no sentido stricto da palavra, enquanto ele desenhava os bicho na caneta eu emulsionei as telas, depois ampliamos os originais no vegetal direto na impressora. A ideia de usar cada vez menos o computador pra gerar o fotolito tem habitado as ideias aqui. Em algum momento vou precisar dar uma solução mais resolvida pro fotolito, principalmente pra tamanhos de folha inteira, a forma que tá funciona mas ainda gera um trabalho não muito suave.

 

 

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Troca de fornecedor

Acho a quantidade de opções de insumos pra serigrafia um tanto quanto limitadas, principalmente se for à base de água, mas a Gênesis geralmente resolve 80% dos meus problemas, o antigo fornecedor o qual eu era refém aos poucos foi deixando de ter materiais da Gênesis e sempre me empurrava o similar, eu no desespero acabava comprando e gastando em dobro, até que cansei fui atrás na Gênesis do representante deles aqui e agora voltei a imprimir do jeito que eu queria.

Bom, esse é o primeiro do ano, vamos ver se consigo todo mês registrar algo. Tem foites maneiros para acontecer nesse semestre ainda, mas faz parte lutar com um certo desânimo intrínseco do existir, ou da forma que acabo existindo, mas sigamos.

Foite no Grafatório

 

Ainda processando os últimos dias. Fui pra Londrina pra primeira oficina do Foite e para a feira mini-dobra. Apesar de ensinar serigrafia há algum tempo na universidade, eu ainda não tinha dado um curso, por assim dizer, mais livre. Agora acho que o primeiro não poderia ter sido em outro espaço que não o @grafatorio Tem algo que acontece ali que ainda não consegui racionalizar. Essa ida a Londrina fugiu de uma nostalgia óbvia que eu estaria muito disposto a cair, produziu algo novo e mais interessante do que reviver memórias, produziu novas.

O espaço físico sem dúvida é um componente disso, eu só consigo organizar o espaço mental a partir do físico, principalmente pra conseguir pensar novas coisas. Ter a mão uma coleção de clichês, carimbos, caixa de tipos de madeira, folhas de letraset e uma máquina de xerox levou a oficina a caminhos inimagináveis. Mas apesar da importância do espaço é legal entender o que faz um espaço. Penso que é o encontro improvável de vontades das pessoas.

 

O Grafatório habita o imaginar e o viver de amigos de muito tempo, de médio e de pouco tempo, que por esses acasos nem tão acasos da vida acabaram se cruzando. Talvez seja esse binômio espaço-gente, que de alguma forma é tão forte que gera uma gravidade que junta mais gente e faz as coisas girarem. Revi muitos amigos das várias Londrinas que eu vivi nesses dias orbitando esse mesmo espaço. Isso me movimentou e com certeza mudou uma chave sobre encontrar pessoas que tem esse fascínio sem sentido por imprimir coisas.

A autora que lançou um livro na mini-dobra falou algo sobre pertencimento, de encontrar a sua galera, eu considero que reencontrei a minha galera da melhor forma possível. Mesmo sem saber nomear muito bem esses dias, sigo recomendando pra cada pessoa que se interesse por coisas gráficas: pelo menos uma vez na vida tem que visitar aquelas duas portas numa quadra na Mossoró, sujar a mão e fazer um corre com a galera de lá. Mais uma vez obrigado Pablo, Melhado, Edson, Luiz, Carol e toda galera do Grafatório que me convidaram pra dar a oficina e participar da mini-dobra. Também obrigado a todos participantes da oficina.